quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

TDAH - ALUNOS COM TDAH APRENDEM


O vício de ignorar-se

Tenho conversado muito com outro tdah sobre como lidar com os estudos e a verdade é que não sei se aconselho alguém a fazer o que fiz...
Meu segredo: a arte de ignorar.
É tive que ignorar minha mente e meu corpo.
Por um lado foi bom, consegui ver que não era burra, mas sim distraida. Isto fez com que conseguisse ver, nitidamente, em mim um dos sintomas do tdah, pois vivia repetindo para minhas colegas de faculdade e pro meu marido que tinha dificuldade em me concentrar.
O lado negativo desse vício de ignorar-se foi a demora no diagnóstico, sofri muito por não conseguir mais demonstrar meus sentimentos, afinal fiquei anos os ignorando... e muitos diziam: você não pode ter tdah porque conseguiu se formar, passar na OAB e ainda por cima estudar para concurso de juiz; o portador de tdah não consegue isso...
MENTIRA!!!! Consegue sim! Nós não somos burros e incapazes de apreender, apenas precisamos desenvolver métodos próprios que mantenham nossa atenção e, claro, ter alguém que lhe incentive estudar e elogie seu esforço.
No meu caso, acho que só consegui passar por cima de tudo, inclusive de mim, por uma soma de fatores:
1º) Meus pais tem uma bonita história de superação. Eles eram de famílias humildes e sem muita instrução, mas com muito estudo e dedicação conseguiram ter uma vida melhor;
2º) Não estudar nunca foi opção para mim e meus irmãos;
3º) Coloquei na cabeça que se meus pais conseguiram estudar com poucos recursos, imagina eu sem esse problema;
4º) Meu marido, na época namorado, sentia orgulho de mim e falava para todo mundo que eu era craque no direito.
Resumindo: apesar de ainda ter dificuldade em expor o grau e a intensidade de meu cansaço, por sorte, hoje sou cercada de profissionais que conseguiram enxergar por dentro desta armadura.
E com eles "aprendi que ignorar os fatos não os altera" e "que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito". (William Shakespeare)

domingo, 20 de janeiro de 2013

O tratamento do tdah/dpac : um dia de cada vez

Um dia de cada vez...
Apesar do tdah e dpac não serem um vício, penso que devem ser enfrentado, por nós portadores, como se fossem.
Isso porque nossa luta não acaba e deve ser travada dia após dia. Devemos ter a consciência de que todo dia ele estará ali para tentar nos distrair.
Por isso, todo dia, tento lembrar que não poderei mudar o fato de que eles fazem parte da minha vida. Mas, por outro lado, poderei alterar os sentimentos que surgem desse fato. 
Então, para mim, aceitar ter tdah e dpac sem sentir culpa ou raiva por ter que fazer o dobro do esforço dos outros é o maior dos desafios.
É todo santo dia tenho que me lembrar dos quinze mandamentos dos portadores de tdah e dpac que criei:
1º Ame a si mesmo: comece o dia com músicas que lhe tragam alegria e paz e tome um banho ouvindo elas;
2º Lembre-se do que é importante na vida e não deixe a correria do dia lhe tirar o prazer de admirar as coisas simples da vida (a maioria dos tdahs amam a natureza e a simplicidade das coisas);
3º Não complique as coisas: se o problema não pode ser resolvido, resolvido está; e se ele pode ser solucionado não há problema;
4º Perdoe a si e os outros: evite se fazer de vítima ou de ré, pare com a mania de se culpar ou culpar os outros;
5º Errar é humano e por isso ser portadora de tdah e dpac lhe fazem mais humana ainda kkkkk (não consegui evitar a piada);
6º Não busque a vitória e nem tema o fracasso, apenas queira evoluir como pessoa;
7º Permita-se trabalhar menos: lembre que qualidade não é sinônimo de quantidade (lembre-se que suas 4 horas de serviço equivalem, no mínimo, a 8 horas de uma pessoa sem tdah e dpac); 
8º Deixe o amor ser o tema principal da sua vida: não abandone seus sonhos;
9º Não tente controlar tudo: você vai se distrair; esquecer de algo; perder o fio da miada nas conversas ou reuniões; derrubar e/ou quebrar algo;
10º Seus distúrbios não lhe fazem pior que ninguém, aceite-os e diminua seus prejuízos, sem se ferir e se sentir a pior das piores;
11º Aceite o fato de que suas deficiências são invisíveis: por isso irão confundi-las com fraqueza de espírito ou personalidade;
12º Você não controla o pensamento dos outros;
13º Separe uma hora do seu dia para comunicar consigo e com Deus;
14º Repita durante o dia, mentalmente, frases positivas que aumentem sua auto-estima:
sou capaz;
tenho saúde;
sou harmonia;
sou concentrada;
sou feliz;
se Deus é por mim ninguém é contra mim;
sou paz;  
15º Tenho direito de ser eu, mesmo que isso decepcione os outros.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Rir de si ou rir para si?

Todos sabem que rir é um santo remédio.
Mas, quando ele é só para evitar constrangimento, também faz bem?
Acho que não e, penso que a maioria dos portadores de tdah concordam comigo. Isso porque o que mais fazemos é rir da gente sem sorrir pra gente.
Tenho refletido muito sobre isso, uns dizem que é melhor rir que chorar e eu concordo plenamente com isso.
Contudo, pelo menos no meu caso, percebi que a piadinha criada para evitar maiores constrangimentos só tem graça para os outros.
É lógico que às vezes também me divirto com as situações embaraçosas que minha distração constante provoca, mas o fato é que não quero mais sorrir para me defender.
Porque esse sorriso não é real, e toda vez que ele aparece meu coração chora e minha mente me lembra que isso com certeza irá acontecer de novo...
Não foi fácil perceber que meu jeito desastrado e desligado não são culpa minha, mas sim da soma de um transtorno de défict de atenção e hiperatividade a um défict de processamento auditivo central.
Há 30 anos vinha pensando que eram traços de personalidade e tentei a todo custo mudá-los.
Mas, hoje vejo que são apenas sinais de uma mente hiperativa e de um ouvido que entende muita coisa errada (tipo velha surda da praça é nossa).
Ai surge a pergunta: porque rir de algo que não tem graça?
Porque rir de problemas que não foram tratados na infância por falta de informação?
Porque rir se ainda existem crianças que têm os mesmos déficts e não estão sendo tratadas?
Acho que o assunto é muito mais sério que uma simples tática defensiva dos tdahs e dpacs.
Rir é bom, mas fazê-lo só para não ficar com cara de tacho é triste... o pior é a mania de antecipar a risada antes da gargalhada alheia, como tentativa de rir junto e não ser só o motivo de piada...
Confesso ter um certo gosto em rir das situações difíceis da vida e de ser a palhaça da festa, mas também queria que nossas dificuldades nem sempre tivessem o mesmo destino: piada.
Mudar essa situação depende da seriedade que tratamos o problema. Então, mãos a obra tdahs, convoco todos a divulgarem em sua cidade algum texto sobre o tdahs.
Então, fica a sugestão, aceita quem quiser.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A arte de colocar as ideias em prática

Socorrooooooooooo!
Como é difícil colocar as coisas em prática, é tão cansativo pensar por onde começar...
Se os os pensamentos vão e vem, as distrações também, é tudo tão confuso...
O pior é a mania de só conseguir enxergar os projetos lá na frente, os primeiros passos são sempre boicotados. Acho que isso ocorre porque são tão sem cor e sem graça.
Outro motivo são os obstáculos que nossa mente cria. É impressionante como o perfeccionismo nos tira energia...
Aff, porque não me contento em fazer uma coisa mediana?
Não tudo tem que ser excelente, brilhante!
Eita Hitler interno, vou te mandar pro quinto dos infernos e fazer o óbvio: dar um passo de cada vez!
Tomara que eu tenha bastante munição para acabar com você, senão vou cair na velha armadilha da tentativa de alcançar a perfeição...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Planos...

De toda conversa que tive na minha última sessão de terapia, a palavra que mais me amedrontou foi: PLANOS...
No momento em que minha psicóloga disse: você precisa fazer planos e visualizar como quer estar daqui há dez anos, fiquei literalmente tonta...
É acho que fiquei um pouco traumatizada em fazer planos.
Também, até dois anos atrás, eu vivia praticamente em função de um plano que infelizmente ou felizmente não se concretizou... Fiquei por mais de 4 anos me dedicando ao concurso de juiz do trabalho, tive bons resultados, mas não consegui aprovação em todas suas 5 benditas fases.
Enfim, acho que a própria palavra PLANO já diz tudo, pois ela significa algo linear e reto.
É irônico... como uma tdah que vive na lua e em curvas suntuosas irá fazer algo desse tipo?
Não sei, mas tenho que aprender rapidinho kkkkk
Até porque aprendi que não posso criar só um plano, devem haver ao menos dois para que a inviabilidade de um não gere uma frustração desastrosa semelhante a que citei acima.
Mas, nessa minha nova fase de descobertas vou tentar chegar as nuvens com os pés no chão e a cabeça na lua, será que vai dar certo?
Veremos.
"Alea jacta est" (a sorte está lançada)...

domingo, 13 de janeiro de 2013

TDAH: combatê-lo, usá-lo ou ACEITÁ-LO?

Hoje, ao ler uma postagem sobre o uso do tdah como "muleta", fiquei pensativa...
Para mim, a descoberta do tdah é recente...
Ou seja, até os meus 30 anos os sintomas do tdah e o dpac foram enfrentados com algumas táticas que eu mesma desenvolvi. Tenho orgulho de ter conseguido conquistar minha liberdade intelectual, mas, por outro lado, essa guerra me feriu muito...
Para enfrentar essa gigantesca guerra  tive que criar uma nova Aline. E quando disse nova, acreditem, não estava brincando...
Acho que me transformei numa espécie de Hitler, pois quis abolir todos meus supostos defeitos e rótulos inadequados (que hoje sei serem fruto do tdah e dpac). Simplesmente não queria mais ser vista como uma garota BURRA, BAGUNCEIRA, REBELDE, NERVOSA, DESATENTA etc.
E a substituição de personalidade foi brusca e impiedosa... Virei a garota Sandy (apelido que meus amigos me deram por dizer que sou muito certinha e careta).
Quanta contradição né? Sai do esteriótipo de ovelha negra para anjinho da mamãe kkkkk
É foda e muito louco... Como alguém pode transformar sua essência só para ter o direito de dizer que também é inteligente e capaz de ser tão competente como todo mundo?
Em seguida, vem a pergunta que não quer calar: "valeu a pena"?
Sinceramente, não sei, mas o que posso dizer com toda certeza é que agora terei que lidar com dois passados totalmente distintos. O primeiro protagonizado por uma Aline motorzinho e radiante, mas cercada de traumas. Já o segundo é representado por uma excelente atriz chamada Aline que de tanto atuar esqueceu quem era, resultado: ficou exausta e doente.
É..." e agora José? A luz apagou..."
É agora tenho que confrontar essas duas Alines e ver qual Aline pretendo ser daqui pra frente... e do jeito que sou, estou achando que criarei uma terceira Aline kkkkkk
Mas, podem ter certeza que ela tentará não combater o tdah ou usá-lo como desculpa, mais sim aceitá-lo. Pois, a aceitação às limitações causadas pelo tdah e dpac serão a constante lembrança de que todo ser humano tem limitações!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Eita cabeça confusa!

Olhos tristes e fundos, marcados por uma luta desleal arranjada pela falta de coragem... o excesso de batalha, infelizmente, está associada ao excesso de fuga.
Quando será que minha mente vai se render? Sinceramente, acho que nunca!
Mesmo quando estiver sendo devorada por insetos e estar vestindo um pijama de madeira, acho que minha mente vai continuar trabalhando.... aff, como cansa!
Tentar adestrar uma mente assim é o mesmo que tentar domesticar um furacão.
É exaustivo...
2013 começou e rezo para não terminar como 2012, 2011, 2010 etc... com várias batalhas ganhas mas com a saúde fragilizada e exausta.
Será que um dia aprendo a lidar com esse tdah?

O "que" (quem) você vai ser quando crescer?

Todo mundo já ouviu a velha pergunta: o "que" você vai ser quando crescer? E neste momento sempre pensamos em algo grandioso... (exceto Chico Xavier que respondia ser feliz)
Mas o que ninguém reparou é que a pergunta correta é QUEM VOCÊ É? Isso porque o conhecimento de suas qualidades e desejos é que lhe apontarão QUEM você SERÁ.
Acho que precisamos repensar numa nova pergunta para nossas crianças. Acredito que todos temos um talento especial.
Devemos ouvir mais que falar; notar mais que apontar; variar mais padronizar; incluir mais que excluir....
É evidente que uma pergunta dirigida a uma pessoa não poderia começar com O QUE e sim QUEM, pois não somos coisas.
O duro é perceber isso só agora (com praticamente 32 anos), mas como diz a sabedoria popular: antes tarde que nunca!
Hoje tento ver quem sou, mais ainda carrego muitos vícios que deturpam minha verdadeira identidade. Dá pra entender? Aprendi a dar mais valor em reduzir minhas fraquezas que potencializar minhas habilidades... resultado: meu eu foi esquecido para não me tornar"quem" não queria ser: burra, preguiçosa e desatenta - resumindo: tdah.
Nos últimos 10 anos lutei contra mim mesma e joguei todas fichas nisso, e, ver agora que essa batalha foi causada por não focar na pergunta correta (quem eu sou) é muito frustrante. E por isso tem sido tão dificil aceitar o tdah, como deixar de lado a mania de tentar mudar os sintomas do tdah? Fiz isso por mais de uma década, sem saber que tinha tdah.
E agora? Será que conseguirei utilizar meu hiperfoco para potencializar as qualidades dos portadores de tdah e dpac?
Não sei, só tenho a certeza de que, durante todo esse tempo, após ter adquirido e perdido algumas  habilidades, vou ter que fazer as contas e ver em qual resultado chegarei... o pior é que odeio fazer contas kkkkkkkkk

O sentimento de culpa do tdah

Aff, como é difícil sentir-se livre... Sinto que sou como um animal silvestre domesticado que anseia em voltar para selva, mas não consegue porque suas defesas naturais/instintos foram substituidas pela adequação.
Me sinto como um bicho acuado, indefeso e amendrontado, jogado num zoológico onde tenho que fingir ser um leão. Digo fingir porque o leão visto nos zoológicos não tem mais nada de leão; sua prisão num lugar artificial assemelhado com a selva só fazem com que ele se esqueça do que realmente é ser um leão. 
E é assim que tenho me sentido, é como se eu tivesse ficado tanto tempo presa que a única lembrança que me vem a mente é da Aline domesticada...
Quero voltar para minha selva, mas tenho medo de não encontrar o caminho de volta ou de não reconher o lugar que um dia já foi meu lar.
Me pergunto quem foi meu adestrador e a resposta dura e cruel ecoa na minha mente: não foi o tdah, mas sim o enorme sentimento de culpa por ter tdah.